sexta-feira, 10 de julho de 2015

A TUNA



A TUNA
Coleção particular Luís Mocho

 Fotografia histórica no movimento cultural de Redondo, pois representa a TUNA fundada no concelho (1903, informação livro “Das Festas dos Moços ás Ruas Floridas” de José Calado), com alguns anos de existência, mas sem continuidade.

Em baixo sentados
Sousa (Capitão Sousa), Ramires, Alfredo Louro (o da Central Eléctrica), José Felix (O pai do Eng. Ernani Cidade Felix), Paim, Pita (filho do Pe. Pita)

1º plano
Mestre João Coca (o Marceneiro), Isaurindo Queimado, Numa Furtado Louro ( pai do Alfredo Louro), António Coelho Charrua, Mestre Francisco Neves (de olaria), Mestre Francisco Ilhéu (o Marceneiro).

 2º plano
Inácio José Pereira Ramalho, João Felix Pereira (João Felix), João Charrua Botas, Eduardo Vieira, António Faleiro, Mestre Tiago Grenho (de Olaria).


 3º plano
...?..., António Besteiro, Joaquim Numa Furtado, Carvalhinho, João Ramos Faustino, José da Quinta, …?..., Marcos José Charrua, …?.....
 
4º plano
António de Jesus Pires Pita, Mestre Francisco Trocas (de Marcenaria), Tomás Pires, José Hermínio Zorrinho (Professor e ensaiador da Tuna, junto ao estandarte da mesma), Joaquim José Cardoso, José Joaquim Faustino, Oliveira Pires (pai de Hermenegildo José Pires “O Gido”), …?....

 De referir que os nomes aqui apresentados podem não estar corretos.

 Como curiosidade, refere-se que só muitos anos mais tarde, em 1952, se conseguiu reunir uma Tuna com vista às comemorações do 1º de Dezembro (de grandes tradições na vila) de que foi ensaiador o Professor Hermínio Zorrinho (irmão do maestro na Tuna anterior). Com idades compreendias entre os 17 e 18 anos e tocavam bandolim.

Como não conheço documento fotográfico, ficam os nomes dos seguintes componentes, entre outros: José Maria Barrancos, Domingos Costa, Numa Furtado, José Vieira (Pai), José Vieira (filho), Manuel Vieira, Alexandre Zezifredo, Franklim Amaro Cabreirinha, Manuel António de Ascensão Pita, José Arronches, Pedro Molefas, Jerónimo Zezifredo (o cardinal), Manuel Grenho.  

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Convento de S. Paulo da Serra D´Ossa

Convento de S. Paulo da Serra D´Ossa
 
“A que mais se remonta he a serra de S. Gens, levantando-se em tanta altura, que parece que nam tem as nuvens vizinhança mais próxima. (…)
 
Todos estes montes e serras eram antigamente aspérrimos, & incultos, tudo brenhas, & altíssimos matos, & por esta causa erão habitados de muitas feras, que a deixarão de povoar depois que para semearem nellas se principiarão a romper, & ainda há poucos anos se achàrão estevas em huma herdade deste Convento, que medidas tinhão de comprimento vinte & seis palmos… poèm nam he triste a dita montanha, porque supposto consta de tam grandes, & escabrosas terras, comtudo entre humas, & outras se dilatão fertilíssimos vales, que com a frescura, & frondoso dos arvoredos, ainda que sylvestres, se mostrão muy agradáveis, & aprazíveis, principalmente no Estio, porque por uma, & outra parte nascem muitas fõtoes, que acompanhadas com o canto de muitas, & sonoras aves, fazem com o seu ruido consonâncias tam suaves, que suspendem os passageiros, & só a herdades das Cortes, que he granja do Convento da Serra D´Ossa, & lhe fica em distancia de huma legoa, consta que tem setenta & tantas fontes, por cuja causa goza esta herdade da frescura de muitos freixos, da fertilidade de grandes pastos, & do melhor montado, que se acha em todas aquelas partes. (…) Na melhor parte pois, & mais fresca, & aprazível de toda esta serra està fundado o principal Convento dos Religiosos de S. Paulo…”

(COSTA, 1708)

 
 

Cabeça da Congregação dos monges de Jesus Cristo da Pobre Vida, em Portugal, as suas raízes históricas perdem-se na obscuridade dos tempos, entretecidas de piedosas lendas que recuam os seus fundamentos a tempos imemoriais.

Carecem de bases criticas os eventos hagiográficos transmitidos pela Pastoral da Sé de Évora e decorrentes nos anos de 1182 a 1376, assim como a cronologia fantástica de santos e milagres dos anacoretas contidos na Chronica dos Eremitas da Serra D´Ossa, de Fr. Henrique de Santo António e obra publicada entre 1745-52.
 
 
 

As origens históricas incontroversas, pertencem ao ano de 1376, após o Papa Gregório XI ter aprovado a reforma geral do convento, por Bula de Avinhão, que nomeou visitadores do nóvel instituto os bispos de Coimbra e Tuy, respectivamente D. Pedro Tenório e D. João de Castro, religioso que renunciou à cadeira episcopal e se integrou na ordem paulista.

A casa actual, então governada pelo venerável Mendo Gomes de Seabra, a terceira em localização, sucedeu ao conventinho de Santo Antão de Vale do Infante e ao oratório da Valadeira, que se pretende ter sido instituído com o nome de Espírito Santo, por D. Fernão Anes, mestre de cavalaria de S. Bento de Calatrava ou de Évora. Foi D. João I que, em 1390 obteve do Papa Bonifácio IX a isenção dos dízimos das fazendas do Convento e de Gregório XII, entre 1403-1406, a concessão de outras bulas de indulgências plenárias, recomendadas aos bispos de Lisboa, Braga e Évora.
 
 
 

Deste período era o primitivo edifício, do qual foi primeiro prelado João Fernandes e eremitas fundadores Gonçalo Vasques e o ex-cónego da Sé de Évora Gil Martins. Pelo alvará régio, com força da lei, dado em Santarém a 20 de Fevereiro de 1434, ficou sob a protecção real, determinando-se, ao mesmo tempo, que os juízes de Borba não impedissem as obras do mosteiro desviando delas os oficiais de pedraria que, ao tempo se ocupavam com os muros e castelos do Alentejo.
 
 

Integrado em 1536 na Regra de Santo Agostinho, pelo Papa Paulo III, no ano de 1578 concedeu-lhe Gregório XIII, a instâncias do Cardeal Infante D. Henrique, a aprovação da Sagrada Congregação no espírito da letra das ordens mendicantes e outros benefícios espirituais, que Alexandre VII confirmou e ampliou conforme os privilégios outorgados aos religiosos de S. Paulo do reino da Hungria e da Ordem de S. Bruno. São do fim deste século os estudos que impuseram o escorço geral do presente mosteiro, conjunto de obras que sucessivamente modificado e engrandecido, sobretudo a partir do reinado de D. João IV, que muito acarinhou a comunidade, alcançou os seus sucessores imediatos, filhos e netos D. Pedro II, D. João V e D. José I.

A fábrica monumental estava bastante adiantada em 1708, ano em que transladaram para a cripta da igreja, as ossadas de todos os frades enterrados no templo antigo. Muito enobrecido nesta centúria por empreitadas sucessivas a sua sagração, em tempo de D. Maria I, a 1 de Setembro de 1798, foi presidida pelo Bispo de Beja D. Frei Manuel do Cenáculo, no impedimento do arcebispo de Évora D. Fr. Joaquim Xavier Botelho de Lima, sendo reitor da comunidade o pregador jubilado D. Frei Manuel de São Caetano Damásio.
 
 

O templo era muito rico de alfaias sumptuárias e de relíquias sagradas, possuindo uma de S. Paulo, padroeiro e a cabeça de uma das Onze Mil Virgens, muitas das quais haviam sido oferecidas pelo inquisidor D. Fernão de Matos de Lucena, secretário do conselho de Portugal em Madrid, que pretendeu ser seu padroeiro (contestado pelo Duque de Bragança D. Teodósio II) e finalmente o foi da Capela-mor do convento de S. Francisco de Estremoz.
 
 

A casa alimentava 60 religiosos de hábito. Cabeça da sua Província e sede capitular abrigava,  normalmente, o padre geral no repouso das visitações eclesiásticas. Foram seus derradeiros administradores comunitários, os padres: reitor Fr. Joaquim de Santa Teresa; vice-reitor, Fr. José António de Santa Maria Valente; clavário, Fr. Manuel de Santa Clara Lima, e vice calvário, Fr. João das Dores.

Muito visitada pelos duque brigantinos, seus protectores, nela estiveram, também, D. Sebastião em 1577; D. João IV várias vezes; D. Catarina de Bragança, Rainha de Inglaterra, em Dezembro de 1699, e os turbulentos Meninos de Palhavã, desterrados pelo Marquês de Pombal.
 
 
Visita D. Sebastião 1577, tela de artistas anónimos , popular.

O decreto de extinção das Ordens Religiosas, em Maio de 1834, abrangeu o edifício, que esteve encerrado alguns anos até ser vendido pelo estado, em hasta pública, à família Sousa Leitão, de Borba, a qual a alienou c.ª de 1870 a D. Carolina Amélia Fernandes de Torres, casada com Henrique Correia da Silva Leotte, ascendente do actual proprietário, Eng. Henrique Leotte Tavares. Abandonado durante muitos anos, padeceu grave ruina com a total profanação das partes sagradas, e venda do recheio sumptuário do templo e de outras capelas interiores. Todas estas incúrias foram, felizmente, redimidas na actualidade com o restauro dos mais importantes membros arquitectónicos do secular mosteiro, decano dos paulistas portugueses.

Construído numa quebrada da linha meridional da Serra de D´Ossa, em sítio que os antigos designavam de S. Cornélio, envolvido por frondosa mata de pinheiros, aloendros e freixos, o Convento de S. Paulo, apresenta a frontaria alva de caio na sua estrutura de alvenaria do sistema construtivo alentejano e apenas cunhada, no templo, por grossas pilastras de granito aparelhado.
 
 

No seu aspecto mostra a silhueta da grande reforma resolvida pelo Conselho da Ordem, e estando como reitor Fr. João da Conceição, assinalada com notório incremento no verão de 1725 e prolongamento até finais de 1725, onde se gastaram para cima de 300.000 rs., período este assinalado pela oferta de inumerável material de obras, incluindo os guindastes, feita pelo lavrador vizinho Miguel Barbosa.

...

Desde que a herdade e o Convento entraram na posse da família Leotte que se iniciaram os trabalhos de recuperação e restauro, a par com a retoma e desenvolvimento da exploração agrícola, como uma das fontes de suporte das imensas despesas que as obras do Convento exigiam.
Escoou-se o século XIX e metade do século XX até que fosse feita a atual estrada ligando Estremoz a Redondo e passando à entrada do Convento.

O Convento de S. Paulo é hoje em dia um confortável e requintado hotel.

O Hotel Convento de São Paulo foi inaugurado em 25 de Abril de 1993, a despeito de todas as dificuldades que lhe foram postas e do cepticismo corrosivo daqueles que nada tendo feito, nada queriam que se fizesse e nada acreditavam que fosse possível fazer.
 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Cancioneiro Popular da vila de Redondo 1929

Do Castelo de Redondo
Avista-se Alandroal
Vêem-se terras de Espanha
E quasi meio Portugal.
 
 
 
Redondo não é cidade,
Nem disso terá desejo,
Mas é a vila mais bela
que existe no Alentejo.

Adeus, aldeia da Serra,
Que é onde tenho o meu bem.
Se eu vou daqui até lá
É porque ele cá não vem.

Meu amor não é daqui
É dalém da Serra D´Ossa,
Não m vê porque não quere,
Não é porque ele não possa.

Eu sou natural dos Foros
E vivo no Adaval;
O meu amos é do Freixo
E mora no Zambujal.

Fui a um baile às Hortinhas
Andavam todos trocados
Os casados com as solteiras
E as solteiras com os casados.

Adeus, vila de Redondo,
Só tu me deste paixão;
É verdade não o nego,
Amor do meu coração.



Adeus, vila de Redondo,
Que tens o largo varrido,
As mocinhas que lá moram
É que tenho no sentido.

Adeus vila de Redondo,
Mal de ti nunca direi;
O mundo dá muita volta,
Não sei se pra lá irei.

De Redondo para Évora
É uma estrada seguida.
Amor, dá-me cuidado,
Não saber da tua vida.

Lá na vila de Redondo
Fazem-se pratos e tigelas;
Fazem-se telhas e adobinhos,
Alguidares e Panelas.

Adeus, vila de Redondo
Toda tu és um primor,
Não me posso conformar
Em lá não ter meu amor.


domingo, 10 de maio de 2015

FONTE SANTA ERMIDA DE SANTA MARINA


FONTE SANTA ERMIDA DE SANTA MARINA

 
Todos nós, com certeza, já nos questionámos “O que Foi a Fonte Santa?”, Pertence a Redondo ou ao Alandroal?

Vamos então perceber um pouco do que foi a Fonte Santa e a quem pertence.

 Vulgarmente conhecida pela invocação de N.ª S.ª DA FONTE SANTA, pertence à freguesia do Alandroal, no local do antigo Pego do Calado, entre a herdade daquele nome e a das Neves e Touril.

Dista a 12 km da sede de freguesia e o local onde foi erecta é profundamente bucólico e pitoresco.

Construída no extremo nordeste de pequena via do sopé de roqueiro cabeço que alcança a velhinha fonte de águas perenes e fresquíssimas, protegida por robusta albarrada de íngreme ribanceira, alteada por muretes que formam o vasto adro, fechado por gradeamento férreo, o sitio está ensombrado por seculares plátanos de porte majestoso.

Desconhece-se a data da fundação religiosa, mas no ano de 1758 trabalhava-se na sua reedificação, ainda sem coberturas, como o comprova o depoimento do P. Aleixo Nunes Valério, pároco da Matriz de Redondo.

Foi lugar de grandes peregrinações dos povos circunvizinhos, romagens que ainda subsistiam nos princípios de novecentos.

O edifício actual pertence às reformas da 2ª metade de setecentos e alvores do século XIX, nesta última fase bastante auxiliadas por um benemérito de nome João de Deus, que nelas trabalhou voluntariamente como simples servente, depois de promover, durante anos, uma colecta entre os crentes da Virgem Imaculada e do glorioso padroeiro dos irmãos hospitaleiros.

 

A ermida está assinalada, a c.ª de 300 metros de distância, num elevado cômoro que domina a ribeira e inicia a via sacra processional, pelo CRUZEIRO, de mármore branco, feito a expensas de uma devota, que, na respectiva base, ordenou a feitura da memória:

MARIANA / DE JESUS/ BARRADAS/ 1841.

De frontaria orientada ao norte, e com adro recoberto por tijoleiras regionais, tem empena triangular rematada, axialmente, por campanário com sino de bronze fundido (infelizmente furtado), da época, acrotérios engalanados de fogaréus, portal e janelinhas graníticas, para contemplação dos fiéis esmoleres.  

Nos prospectos, a meia altura, existem duas lápidas de mármore, grosseiramente insculpidas com estas legendas:

ESMOLAS PARA / AS OBRAS DE NOSSA S.ª DA / CONCEIÇÃO DA / FONTE SANTA / 1779 /

 

NO ANNO DE 1802 COMSE

GVIO O DEVOTO IOÃO DE DE

OS ABCTVRA (sic) DESTA IGREIA

DE ESMOLAS Q. ALCAMÇOV

DOS FIEIS ASISTINDO E TRABA

LHADO GRAVOV ESTA LEMBRA

QA. (sic) Q: ALGVM TOME. O SEV ZELO

P.N.AV M:P. ALMAS.

 

Contra o lado nascente corre o pavilhão das Hospedarias de peregrinos, constituído por cinco trancos de arcadas plenas, com tectos de penetrações, reforçadas por pilastras escaioladas, que alojavam, no corpo térreo, as cavalariças e cocheiras, e nos sobrados os aposentos das diferentes confrarias promotoras das festividades e romarias.

Encontra-se devassada e em franca ruína.

No remansoso extremo oposto, e anichada à sombra da empena do templete, conserva-se, na sua caixa arredondada, a nascente muito antiga, do tipo de mergulho, cujo pórtico de frontão triangular, foi enriquecido, no séc. XVIII, por elementos de mármore, ulteriormente recobertos ao uso popular de escaiolas azuladas.

O corpo da nave, de planta rectangular, e tecto redondo, fendido com certa gravidade, no sentido horizontal, é completamente caiado de branco e liso de ornatos, tendo-lhe sido acrescentado, mais tarde e desgraciosamente, o coro de grossos barrotes de madeira, com balaustrada de cancelos recortados.

Chão assoalhado e apodrecido.

Na face do Evangelho e integrado na cabeceira, eleva-se como tribuna, o púlpito de alvenaria, em cujo murete facial se desenharam falsos balaústres de tinta de água.

Pendentes, nos prospectos, e assinalando o intenso culto da SENHORA DA FONTE SANTA, vêem-se muitos ex-votos pintados a óleo sobre tábua, tela e chapa cúprica, desde 1810 até meados de novecentos, sendo curioso o oferecido por D. Mariana, filha do capitão de auxiliares de Redondo António Rosa, lavrador do Touril.

O altar-mor rasga-se em profundidade da parede mestra, em arco pleno, apilastrado e com os habituais ocres populares. É formado por retábulo de três nichos envidraçados, composto, ligeiramente, por entalhe dourado, do estilo rococó e de vastas superfícies pintadas de azul, nos quais se poderiam ver as seguintes imagens (pertencentes à paróquia de Alandroal): no eixo, a padroeira, SANTA MARGARIDA, de roca e vestimentas de primavera; no da banda do Evangelho, CRISTO DA RESSURREIÇÃO, titular, e S. BRÁS, e no oposto, N.ª S.ª DA CONCEIÇÃO, titular e S. JOÃO DE DEUS, esculturas em terracota policromada da 2ª metade do séc. XVIII.

A banqueta, excluindo o CRUXIFIXO, é de estanho e da arte rococó.

 
Podemos concluir que a FONTE SANTA, pertencendo ao Alandroal, esteve sempre ligada a pessoas de Redondo.

Esperemos que o património artístico esteja bem guardado e preservado, na paróquia do Alandroal, já que de resto, mais uns anos, e estará tudo em ruína.

sábado, 2 de maio de 2015

As Meias da Aldeia da Serra D´Ossa


As Meias da Aldeia da Serra



A produção artesanal alentejana, como é do conhecimento geral, é extremamente rica e variada (tapeçaria, olaria, buinho, mantas, mobiliário, etc…). No entanto a fama de certos artefactos característicos – entre os quais podemos citar, como grande exemplo, os tapetes de Arraiolos – ampliada nos nossos dias, graças ao seu desenvolvimento do turismo, contrasta com o esquecimento ou total ignorância a que estão votados outros produtos artesanais não menos importantes e que correm o risco de se perderem irremediavelmente.
 
 
 
É o que acontece actualmente com as lindas meias de Aldeia da Serra, pequena localidade nas faldas da Serra D´Ossa, cerca de 10km ao norte da Vila alentejana de Redondo.
 
 
 
As meias da Aldeia da Serra, sobretudo características nos seus motivos decorativos minuciosos e nas suas cores alegres, parece terem sido em tempos um traje, possivelmente domingueiro, das mulheres dessa aldeia.
 
 
 
No entanto, com o aparecimento das meias baratas trazidas pelo desenvolvimento do comércio e tendo em conta o tempo necessário para a sua confecção – cerca de quinze dias – fez com que caíssem em desuso, tornando-se um traje típico que, ainda não há muitos anos, as raparigas usavam por ocasião do Carnaval.
 
Nos tempos que correm, e apesar de existirem na Aldeia pessoas que sabem confeccionar as referidas meias, elas são já apenas produzidas por uma pessoa idosa – setenta e oito anos – que aprendeu a “arte”, quando ainda criança e por transmissão familiar. Viúva e sem outros recursos – além da magríssima pensão da Casa do Povo – a “Tia Lisa”, tal como é conhecida entre os seus conterrâneos, continua assim uma velha tradição que muito provavelmente desaparecerá consigo.
 
 
 
Trabalhando com cinco agulhas e utilizando fio de lã ou fio de algodão (mais barato), cada par de meias representa muitos dias de trabalho minucioso, atenção e esforço visual, normalmente incompatíveis com uma idade tão avançada.
 
 
 
No entanto, refira-se, a casa que em Évora as vende e utiliza como atracção turística, paga por tanto trabalho um preço irrisório…
 
Redondo 1978
Fica a homenagem à Tia Lisa

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Décimas que fez um Frade do Convento da Serra D'Ossa, na ocasião em que foi expulso

Decimas Que Fez um Frade do Convento da Serra D’Ossa na Ocasião em Que Foi Expulso
 
 
 
Remonta a 1366 a presença de «homens da pobre vida» que integraram o mosteiro ou convento de Santo Antão de Vale de Infante, ou Vale de Lázaro da Serra de Ossa, situado entre Estremoz e Redondo. Em 1834, no âmbito da Reforma Geral Eclesiástica empreendida pelo ministro Joaquim António de Aguiar, foi extinta a sua função, sendo os seus bens e documentos incorporados na Fazenda Nacional. Hoje em dia, encontra-se o mesmo atribuído à hotelaria.
 
 

1
A Deos Casa mil vezes bendita
Para os louvores de Deos destinada
Agora ficas porfanada,
Gemendo triste e afflita;
Os Ceos e a terra tudo grita,
Lamento o vosso mal;
Desgraçado Portugal!
Que tanto falavas de França,
De lá te veio a herança, outro
Agora estaes que tal.
2
O' Paulo Ermita Santo!

Os vossos filhos muito amados
 
D'aqui os mandão desterrados,
Não sei quem tem poder tanto:
As nossas lagrimas imaginai
Lembrai-vos que sois o pai
D'estes filhos desgraçados,
Pondo em nós vossos cuidados
A vossa benção nos deitai;
.........................................
3
A Deos pai de penitencia,

Exemplo de Santidade,
 
Só uma grande impiedade
Veio fazer nossa ausencia:
Mas sofrer com paciencia
He a nossa obrigação;
Ahi fica Santo Antão,
Nosso fiel companheiro,
Pois morrer neste Mosteiro
Sempre foi nossa tenção.
4
A Deos convento, e a Deos Serra

Daqui nos mandão sahir;
 
Mas é preciso advertir
Que quem manda tambem erra;
He mais vil que o po da terra
Quem afflige a humanidade,
He custoso na verdade
Soffrer tanta tirania:
Quem faz uma tal avaria
Deos tenha dele piedade.
5
A Deos ó restos mortaes,

Que jazeis nas sepulturas,
 
As vossas penitencias duras
Nos lembrarão cada vez mais:
Vós outros ahi ficaes,
Ah dos homens esquecidos!
Nós já vamos convencidos
Por uma razão natural
Que não sabemos porque mal
Somos tão affligidos.
6
A Deos meu habito sagrado,

Meu constante companheiro,
 
Antes eu morresse primeiro
Do que vêrte abandonado:
Se te deixo sou obrigado
Até com pena de morte
A poder de força e lei forte
Conquistas nações inteiras;
Mas quem pizou nossas bandeiras
Em si mesmo dêo mortal golpe.
7
Ha mil e quinhentos anos

Que á na Serra monges devotos,
 
Que offerecem a Deos seus votos,
E seus corações humanos:
Até filhos de Reis Sob'ranos,
Aqui têem professado;
Lá nesse tempo passado
Portugal teve brazão:
Mas em pontos de Relígião
Vai estando isto acabado.
8
Os altos Juizos ce Deos

Não se podem compreeder,
 
Nem tão pouco conhecer
Quaes são os destinos seus,
Aonde iremos Irmãos meus,
Se o mundo já não é nosso?
O meu dote e mais o vosso,
Que nos derão nossos pais,
Agora são bem nacionais,
Entender isto não posso. 
9
A Deos campos, e a Deos flores

A Deos feras, e passarinhos;
 
Mesmo ahi nos vossos ninhos
Cantai a Deos louvores;
Só vós sois merecedores 
De gozardes a solidão;
Ahi fica o gato, e o cão
Um a ladrar, e outro a miar,
Por seus donos a chamar,
Sem terem quem lhes dê pão.
10
A Deos todos os vizinhos

Da aldêa e mais dos montes
 
A Deos rios, e a Deos fontes
E seus inocentes peixinhos;
A Deos irmãos pobrezinhos
Que esmolas andais pedindo:
Nós todos vamos sentindo
Esta grande trovoada,
Desta não escapa nada
A todos vai affligindo.
11
A Deos moços do Convento,

Armador, e Sacristão,
 
Lavadeira, e Ortelão
Tudo aqui tinha sustento;
Uns lá fora, outros cá dentro,
Tudo aqui ganhava pão
Carpinteiro, e Abegão
Alfaiate, e Cardador;
Ganadeiro, e trabalhador,
Sapateiro, e tecelão.
12
O Homem que fôr cordato
No seu modo de pensar
Ja mais pode louvar
As acções d'um ingrato:
O qual nunca se vio farto
De affligir o seu semilhante:
Mas o tempo inconstante
Faz volta ao mundo dár.
Mas a casa de Deos atacar
Só o faz um protestante.
 
 
13
O' Filho do grande Henrique,
Vê como está transtornada
 
A grande obra consumada
Lá nesse campo d'Orique:
Deos queira que por aqui fique
O que entre nós se tem visto;
Portugal, vêr lá se é isto
A fé pura conservar,
Vê se é ou não atacar
A Religião de Jesus Cristo.
14
Irmãos é chegada a hora
De deixar-mos o Deserto,
Por isso que um Real decreto
Nos manda para fora;
Vamos já sem demora
Despedir-mo-nos da Serra d'Ossa
Não sei como á quem possa
Cahir em certos enganos
No fim de 1500 anos
Esta casa não é nossa.
15
 A Deos Igreja sagrada,

Geme triste e dolorosa
 
Pois nesta montanha fragosa,
Ahi ficas despresada:
Tu em nada és culpada
Do castigo que te dão
Até corta o coração
O rigor dos teus tormentos,
Pois ficas sem sacramentos,
Aqui nesta solidão.
16
O' Filhos da Santa Igreja!

Chorai sem consolação
 
Com lagrimas no coração
Para que todo o mundo veja;
Pois uma mão bemfaseja
Nunca dá golpe mortal;
Quem se emprega em fazer mal
De continuo anda pensando
Que háde poder ser quando
Contra a ordem natural.
17
A Deos bella livraria,

Nós sempre confirmaremos
 
Que é a ti que devemos
A nossa sabedoria:
Chegou enfim o triste-dia
De te vêr-mos despresada
Tanta cabeça mitrada
Recebeo tuas lições
E pelas tuas instrucções
Sempre a fé foi exaltada.
18
Levantai-vos tristes mortos,
Lá dessa antiguidade,
Reconhecer a authoridade
Que dispensa nossos votos:
Já estão abertos os portos
Da mais seria instituição,
De Roma o breve nos dão
As cruzes do nosso dinheiro,
Seja falso ou verdadeiro,
A nossa secularisação.
19
A Deos paineis e pinturas

Dos nossos ante passados,
 
Vossos ossos estão guardados,
No centro das sepulturas;
Se os retratos e figuras
Ahi ficão no Claustro,
Forão filhos sem padrasto
Da nossa Religião,
De Antonio e João,
E mais de João de Castro.
20
Irmãos velhos e doentes,

Quaes serão nossos cuidados!
 
Pois ficais desamparados
E talvez sem ter parentes:
Muitos homens estão contentes
De nós sermos infelizes,
Talvez que quebrem os narizes
Por fazer tão grande asneira,
Vão-se as folhas da palmeira
Mas lá ficam as raizes.
21
 Aqui está a portaria

Por onde havemos de sahir
 
E por onde entramos a rir
Cheios da maior alegria;
Cada um de nós trazia
Uma somma avantajada,
Agora não levamos nada
Vamos pobres como Jó;
E não á quem tenha dó
De fazer gente desgraçada!
22
A Deos torres, e a Deos sinos

Descansai já de tocar,
 
Pois não tendes por quem chamar
Para os Officios Divinos:
O som de vossos metaes finos
Nos davão muita alegria,
Fosse de noite ou de dia,
Justos ou pecadores,
Todos hiamos dar louvores,
A Deos e á Virgem Maria.
 23
A Deos geraes, e reitores,

A Deos mestres e jubilados,
 
A Deos todos os perlados
Presidentes e pregadores:
Coristas, e confessores,
Irmãos leigos e porteiro,
A Deos Cruzes do dinheiro,
Que nos derão nossos pais
Venhão os bens nacionais
Tomar posse do Mosteiro.
24
Cada um de nós póde ir

Para onde lhes convier,
 
E quem trabalhar não poder
Esmolas deve pedir:
Mas sempre deve seguir
A lei do Crucificado;
O homem bem comportado
Sempre tem aceitação
E é digno de estimação
Sendo pobre mas honrado.