domingo, 10 de maio de 2015

FONTE SANTA ERMIDA DE SANTA MARINA


FONTE SANTA ERMIDA DE SANTA MARINA

 
Todos nós, com certeza, já nos questionámos “O que Foi a Fonte Santa?”, Pertence a Redondo ou ao Alandroal?

Vamos então perceber um pouco do que foi a Fonte Santa e a quem pertence.

 Vulgarmente conhecida pela invocação de N.ª S.ª DA FONTE SANTA, pertence à freguesia do Alandroal, no local do antigo Pego do Calado, entre a herdade daquele nome e a das Neves e Touril.

Dista a 12 km da sede de freguesia e o local onde foi erecta é profundamente bucólico e pitoresco.

Construída no extremo nordeste de pequena via do sopé de roqueiro cabeço que alcança a velhinha fonte de águas perenes e fresquíssimas, protegida por robusta albarrada de íngreme ribanceira, alteada por muretes que formam o vasto adro, fechado por gradeamento férreo, o sitio está ensombrado por seculares plátanos de porte majestoso.

Desconhece-se a data da fundação religiosa, mas no ano de 1758 trabalhava-se na sua reedificação, ainda sem coberturas, como o comprova o depoimento do P. Aleixo Nunes Valério, pároco da Matriz de Redondo.

Foi lugar de grandes peregrinações dos povos circunvizinhos, romagens que ainda subsistiam nos princípios de novecentos.

O edifício actual pertence às reformas da 2ª metade de setecentos e alvores do século XIX, nesta última fase bastante auxiliadas por um benemérito de nome João de Deus, que nelas trabalhou voluntariamente como simples servente, depois de promover, durante anos, uma colecta entre os crentes da Virgem Imaculada e do glorioso padroeiro dos irmãos hospitaleiros.

 

A ermida está assinalada, a c.ª de 300 metros de distância, num elevado cômoro que domina a ribeira e inicia a via sacra processional, pelo CRUZEIRO, de mármore branco, feito a expensas de uma devota, que, na respectiva base, ordenou a feitura da memória:

MARIANA / DE JESUS/ BARRADAS/ 1841.

De frontaria orientada ao norte, e com adro recoberto por tijoleiras regionais, tem empena triangular rematada, axialmente, por campanário com sino de bronze fundido (infelizmente furtado), da época, acrotérios engalanados de fogaréus, portal e janelinhas graníticas, para contemplação dos fiéis esmoleres.  

Nos prospectos, a meia altura, existem duas lápidas de mármore, grosseiramente insculpidas com estas legendas:

ESMOLAS PARA / AS OBRAS DE NOSSA S.ª DA / CONCEIÇÃO DA / FONTE SANTA / 1779 /

 

NO ANNO DE 1802 COMSE

GVIO O DEVOTO IOÃO DE DE

OS ABCTVRA (sic) DESTA IGREIA

DE ESMOLAS Q. ALCAMÇOV

DOS FIEIS ASISTINDO E TRABA

LHADO GRAVOV ESTA LEMBRA

QA. (sic) Q: ALGVM TOME. O SEV ZELO

P.N.AV M:P. ALMAS.

 

Contra o lado nascente corre o pavilhão das Hospedarias de peregrinos, constituído por cinco trancos de arcadas plenas, com tectos de penetrações, reforçadas por pilastras escaioladas, que alojavam, no corpo térreo, as cavalariças e cocheiras, e nos sobrados os aposentos das diferentes confrarias promotoras das festividades e romarias.

Encontra-se devassada e em franca ruína.

No remansoso extremo oposto, e anichada à sombra da empena do templete, conserva-se, na sua caixa arredondada, a nascente muito antiga, do tipo de mergulho, cujo pórtico de frontão triangular, foi enriquecido, no séc. XVIII, por elementos de mármore, ulteriormente recobertos ao uso popular de escaiolas azuladas.

O corpo da nave, de planta rectangular, e tecto redondo, fendido com certa gravidade, no sentido horizontal, é completamente caiado de branco e liso de ornatos, tendo-lhe sido acrescentado, mais tarde e desgraciosamente, o coro de grossos barrotes de madeira, com balaustrada de cancelos recortados.

Chão assoalhado e apodrecido.

Na face do Evangelho e integrado na cabeceira, eleva-se como tribuna, o púlpito de alvenaria, em cujo murete facial se desenharam falsos balaústres de tinta de água.

Pendentes, nos prospectos, e assinalando o intenso culto da SENHORA DA FONTE SANTA, vêem-se muitos ex-votos pintados a óleo sobre tábua, tela e chapa cúprica, desde 1810 até meados de novecentos, sendo curioso o oferecido por D. Mariana, filha do capitão de auxiliares de Redondo António Rosa, lavrador do Touril.

O altar-mor rasga-se em profundidade da parede mestra, em arco pleno, apilastrado e com os habituais ocres populares. É formado por retábulo de três nichos envidraçados, composto, ligeiramente, por entalhe dourado, do estilo rococó e de vastas superfícies pintadas de azul, nos quais se poderiam ver as seguintes imagens (pertencentes à paróquia de Alandroal): no eixo, a padroeira, SANTA MARGARIDA, de roca e vestimentas de primavera; no da banda do Evangelho, CRISTO DA RESSURREIÇÃO, titular, e S. BRÁS, e no oposto, N.ª S.ª DA CONCEIÇÃO, titular e S. JOÃO DE DEUS, esculturas em terracota policromada da 2ª metade do séc. XVIII.

A banqueta, excluindo o CRUXIFIXO, é de estanho e da arte rococó.

 
Podemos concluir que a FONTE SANTA, pertencendo ao Alandroal, esteve sempre ligada a pessoas de Redondo.

Esperemos que o património artístico esteja bem guardado e preservado, na paróquia do Alandroal, já que de resto, mais uns anos, e estará tudo em ruína.

sábado, 2 de maio de 2015

As Meias da Aldeia da Serra D´Ossa


As Meias da Aldeia da Serra



A produção artesanal alentejana, como é do conhecimento geral, é extremamente rica e variada (tapeçaria, olaria, buinho, mantas, mobiliário, etc…). No entanto a fama de certos artefactos característicos – entre os quais podemos citar, como grande exemplo, os tapetes de Arraiolos – ampliada nos nossos dias, graças ao seu desenvolvimento do turismo, contrasta com o esquecimento ou total ignorância a que estão votados outros produtos artesanais não menos importantes e que correm o risco de se perderem irremediavelmente.
 
 
 
É o que acontece actualmente com as lindas meias de Aldeia da Serra, pequena localidade nas faldas da Serra D´Ossa, cerca de 10km ao norte da Vila alentejana de Redondo.
 
 
 
As meias da Aldeia da Serra, sobretudo características nos seus motivos decorativos minuciosos e nas suas cores alegres, parece terem sido em tempos um traje, possivelmente domingueiro, das mulheres dessa aldeia.
 
 
 
No entanto, com o aparecimento das meias baratas trazidas pelo desenvolvimento do comércio e tendo em conta o tempo necessário para a sua confecção – cerca de quinze dias – fez com que caíssem em desuso, tornando-se um traje típico que, ainda não há muitos anos, as raparigas usavam por ocasião do Carnaval.
 
Nos tempos que correm, e apesar de existirem na Aldeia pessoas que sabem confeccionar as referidas meias, elas são já apenas produzidas por uma pessoa idosa – setenta e oito anos – que aprendeu a “arte”, quando ainda criança e por transmissão familiar. Viúva e sem outros recursos – além da magríssima pensão da Casa do Povo – a “Tia Lisa”, tal como é conhecida entre os seus conterrâneos, continua assim uma velha tradição que muito provavelmente desaparecerá consigo.
 
 
 
Trabalhando com cinco agulhas e utilizando fio de lã ou fio de algodão (mais barato), cada par de meias representa muitos dias de trabalho minucioso, atenção e esforço visual, normalmente incompatíveis com uma idade tão avançada.
 
 
 
No entanto, refira-se, a casa que em Évora as vende e utiliza como atracção turística, paga por tanto trabalho um preço irrisório…
 
Redondo 1978
Fica a homenagem à Tia Lisa