As Meias da Aldeia da Serra
A produção artesanal alentejana,
como é do conhecimento geral, é extremamente rica e variada (tapeçaria, olaria,
buinho, mantas, mobiliário, etc…). No entanto a fama de certos artefactos característicos
– entre os quais podemos citar, como grande exemplo, os tapetes de Arraiolos –
ampliada nos nossos dias, graças ao seu desenvolvimento do turismo, contrasta
com o esquecimento ou total ignorância a que estão votados outros produtos
artesanais não menos importantes e que correm o risco de se perderem
irremediavelmente.
É o que acontece actualmente com
as lindas meias de Aldeia da Serra, pequena localidade nas faldas da Serra
D´Ossa, cerca de 10km ao norte da Vila alentejana de Redondo.
As meias da Aldeia da Serra,
sobretudo características nos seus motivos decorativos minuciosos e nas suas
cores alegres, parece terem sido em tempos um traje, possivelmente domingueiro,
das mulheres dessa aldeia.
No entanto, com o aparecimento
das meias baratas trazidas pelo desenvolvimento do comércio e tendo em conta o
tempo necessário para a sua confecção – cerca de quinze dias – fez com que
caíssem em desuso, tornando-se um traje típico que, ainda não há muitos anos,
as raparigas usavam por ocasião do Carnaval.
Nos tempos que correm, e apesar
de existirem na Aldeia pessoas que sabem confeccionar as referidas meias, elas
são já apenas produzidas por uma pessoa idosa – setenta e oito anos – que aprendeu
a “arte”, quando ainda criança e por transmissão familiar. Viúva e sem outros
recursos – além da magríssima pensão da Casa do Povo – a “Tia Lisa”, tal como é
conhecida entre os seus conterrâneos, continua assim uma velha tradição que
muito provavelmente desaparecerá consigo.
Trabalhando com cinco agulhas e
utilizando fio de lã ou fio de algodão (mais barato), cada par de meias
representa muitos dias de trabalho minucioso, atenção e esforço visual,
normalmente incompatíveis com uma idade tão avançada.
No entanto, refira-se, a casa que
em Évora as vende e utiliza como atracção turística, paga por tanto trabalho um
preço irrisório…
Redondo 1978
Fica a homenagem à Tia Lisa
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