FONTE SANTA ERMIDA DE SANTA MARINA
Vamos então perceber um pouco do
que foi a Fonte Santa e a quem pertence.
Dista a 12 km da sede de
freguesia e o local onde foi erecta é profundamente bucólico e pitoresco.
Construída no extremo nordeste de
pequena via do sopé de roqueiro cabeço que alcança a velhinha fonte de águas
perenes e fresquíssimas, protegida por robusta albarrada de íngreme ribanceira,
alteada por muretes que formam o vasto adro, fechado por gradeamento férreo, o
sitio está ensombrado por seculares plátanos de porte majestoso.
Desconhece-se a data da fundação
religiosa, mas no ano de 1758 trabalhava-se na sua reedificação, ainda sem
coberturas, como o comprova o depoimento do P. Aleixo Nunes Valério, pároco da
Matriz de Redondo.
Foi lugar de grandes
peregrinações dos povos circunvizinhos, romagens que ainda subsistiam nos
princípios de novecentos.
O edifício actual pertence às
reformas da 2ª metade de setecentos e alvores do século XIX, nesta última fase
bastante auxiliadas por um benemérito de nome João de Deus, que nelas trabalhou
voluntariamente como simples servente, depois de promover, durante anos, uma
colecta entre os crentes da Virgem Imaculada e do glorioso padroeiro dos irmãos
hospitaleiros.
A ermida está assinalada, a c.ª
de 300 metros de distância, num elevado cômoro que domina a ribeira e inicia a
via sacra processional, pelo CRUZEIRO, de mármore branco, feito a expensas de
uma devota, que, na respectiva base, ordenou a feitura da memória:
MARIANA / DE JESUS/
BARRADAS/ 1841.
De frontaria orientada ao norte,
e com adro recoberto por tijoleiras regionais, tem empena triangular rematada,
axialmente, por campanário com sino de bronze fundido (infelizmente furtado),
da época, acrotérios engalanados de fogaréus, portal e janelinhas graníticas,
para contemplação dos fiéis esmoleres.
Nos prospectos, a meia altura,
existem duas lápidas de mármore, grosseiramente insculpidas com estas legendas:
ESMOLAS PARA / AS OBRAS DE NOSSA S.ª DA / CONCEIÇÃO DA / FONTE SANTA /
1779 /
NO ANNO DE 1802 COMSE
GVIO O DEVOTO IOÃO DE DE
OS ABCTVRA (sic) DESTA IGREIA
DE ESMOLAS Q. ALCAMÇOV
DOS FIEIS ASISTINDO E TRABA
LHADO GRAVOV ESTA LEMBRA
QA. (sic) Q: ALGVM TOME. O SEV ZELO
P.N.AV M:P. ALMAS.
Contra o lado nascente corre o
pavilhão das Hospedarias de peregrinos, constituído por cinco trancos de
arcadas plenas, com tectos de penetrações, reforçadas por pilastras
escaioladas, que alojavam, no corpo térreo, as cavalariças e cocheiras, e nos
sobrados os aposentos das diferentes confrarias promotoras das festividades e
romarias.
Encontra-se devassada e em franca
ruína.
No remansoso extremo oposto, e
anichada à sombra da empena do templete, conserva-se, na sua caixa arredondada,
a nascente muito antiga, do tipo de mergulho, cujo pórtico de frontão triangular,
foi enriquecido, no séc. XVIII, por elementos de mármore, ulteriormente
recobertos ao uso popular de escaiolas azuladas.
O corpo da nave, de planta
rectangular, e tecto redondo, fendido com certa gravidade, no sentido
horizontal, é completamente caiado de branco e liso de ornatos, tendo-lhe sido
acrescentado, mais tarde e desgraciosamente, o coro de grossos barrotes de
madeira, com balaustrada de cancelos recortados.
Chão assoalhado e apodrecido.
Na face do Evangelho e integrado
na cabeceira, eleva-se como tribuna, o púlpito de alvenaria, em cujo murete
facial se desenharam falsos balaústres de tinta de água.
Pendentes, nos prospectos, e
assinalando o intenso culto da SENHORA DA FONTE SANTA, vêem-se muitos ex-votos pintados
a óleo sobre tábua, tela e chapa cúprica, desde 1810 até meados de novecentos,
sendo curioso o oferecido por D. Mariana, filha do capitão de auxiliares de Redondo António Rosa,
lavrador do Touril.
O altar-mor rasga-se em
profundidade da parede mestra, em arco pleno, apilastrado e com os habituais
ocres populares. É formado por retábulo de três nichos envidraçados, composto,
ligeiramente, por entalhe dourado, do estilo rococó e de vastas superfícies pintadas
de azul, nos quais se poderiam ver as seguintes imagens (pertencentes à
paróquia de Alandroal): no eixo, a padroeira, SANTA MARGARIDA, de roca e vestimentas
de primavera; no da banda do Evangelho, CRISTO DA RESSURREIÇÃO, titular, e S.
BRÁS, e no oposto, N.ª S.ª DA CONCEIÇÃO, titular e S. JOÃO DE DEUS, esculturas
em terracota policromada da 2ª metade do séc. XVIII.
A banqueta, excluindo o
CRUXIFIXO, é de estanho e da arte rococó.
Esperemos que o património artístico
esteja bem guardado e preservado, na paróquia do Alandroal, já que de resto,
mais uns anos, e estará tudo em ruína.